Christofer Pallu’s review published on Letterboxd:
Kickboxer - final dos anos 80. Um belga perde o irmão e seu lado americano mas resgata sua alma quando encontra o amor, a amizade e a beleza nas profundezas da Tailândia. Depois que Tong Po e a honra do submundo tailandês vão pro saco, cineastas locais no saco dos pais sonham em aprofundar no que restou: nada. A moral da vingança.
Kickboxer 2 - início dos anos 90. Um havaiano criado no Japão vai ao coração dos EUA resgatar a alma da luta de classes encarnada na luta do Spike de Bensonhurst, professor e humilde sonhador que os locais atiram ao gueto e que lá começa sua revolução, tirando a pirralhada da rua e dando a elas uma família na sua academia falida. A vingança do coração.
Kickboxer 3 - início dos anos 90. Do gueto dos EUA para o gueto do Brasil, do resgate do coração e de um lar para o resgate da astúcia e das ruas. O lutador aprende que não controla seu destino, que não pode exportar sua revolução, mas que pode aproveitar muito bem o tempo ao lado dos trombadinhas que querem lhe dar uma rasteira, pois esse sempre foi seu golpe de mestre, golpe malandro, redescoberto e aperfeiçoado no contato com malandros do terceiro mundo. Os americanos vêm e vão, pois Mitchell tem uma casa e é um campeão, mas deixa a câmera nas mãos do piá perdido, preso à terra do fracasso, enquanto pilantras, traficantes, banqueiros e conspiradores brasileiros criam o novíssimo. Os fracassados são vingados.
Kickboxer 4 - mais fundo nos anos 90. O havaiano e o campeão novaiorquino sem espaço na indústria e na cultura exploram o deserto mexicano. O vilão sem honra e humanidade é agora barão sádico, traficante de drogas, estuprador, mestre de cerimônias bestiais... E é também um produtor cultural. A vingança fica lá pro fundo do plano, atrás dos escorpiões, das cobras e dos lagartos. Agora Mitchell e sua turma só podem tirar uma onda surrando motoqueiros e pegando carona nos esquemas dos outros. É a vingança dos cínicos, que perdura.