The Umbrellas of Cherbourg

The Umbrellas of Cherbourg ★★★★★

Apenas na quarta vez e com sentimentos à flor da pele que permito deixar minhas lágrimas descerem ao som das notas de Legrand. Talvez seja pretensioso falar de minha relação pessoal com o cinema de Demy quando tudo me toca de um jeito tão único que seja até difícil pôr em palavras; seja um melodrama cheio de cores vibrantes envolto numa cantoria sem fim ou em duas horas de irmãs gêmeas (nascidas sob o signo de gêmeos) cantando e dançando sobre amores impossíveis que vivem na rua ao lado, em um musical sem músicas ou adaptação de um conto infantil, ele não falha em criar seu próprio mundo e dar a quem assiste a sensação constante de receber um abraço carinhoso.


Talvez seja pretensioso falar de tanto na review de um filme apenas. Talvez seja difícil descrevê-lo só em palavras, ou limitar Cherbourg a filme apenas quando o que se entrega é uma inteira experiência em audiovisual; nas cores, na melancolia e na música, a chegada da fase adulta e o sopro nas chamas que um dia queimaram dentro da jovem Geneviève. Seu amor existe, mas a realidade também - e é mais dura que ela. E madame Emery ressalta: Apenas se morre de amor no cinema.


Foi da maneira como Agnès Varda dedicou-lhe anos de homenagens em seu trabalho, das imagens e gentis palavras e o permitiu viver por mais anos ao seu lado.
Do outro lado da tela, a tristeza sorri na partida de trem enquanto descem as lágrimas e encerra-se capítulo um. Pesa a ausência no meio, e caem os flocos de neve ao fim. Mas a dor que paira a cidade é bela, emociona e dá vontade de ver de novo e novo como se fosse a primeira vez.
Talvez seja meio boba, ou até mesmo infantil minha relação com Jacques. Consigo sempre casar seus filmes com uma situação desagradável e recorrer no fim do dia como uma criança aos braços da mãe depois de se machucar na rua. É uma sensação boa, que aquece o peito e dá vontade de sorrir, chorar, chorrir. Ele dá vida e um novo significado a “casa”; seja em cores vibrantes ou tons pastéis, no riso ou no choro, na dança ou no canto, Jacques Demy é terapia para a alma.

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